O desmame tradicionalmente é realizado quando o bezerro está com 6 a 8 meses de vida. Nesta idade, o animal já pode ser considerado um ruminante e tem plena condição de utilizar forragem sólida como única fonte de energia e de nutrientes de que necessita. Além do mais, a participação do leite na dieta do bezerro é pequena após o terceiro mês de lactação (EMBRAPA-CNPGC, 1996).
A grande questão é que a época de desmama é um período de considerável estresse para vaca e bezerro. Em grande parte dos rebanhos de cria a desmama é realizada de maneira abrupta, com a separação do par mãe / cria e concomitante manutenção das duas categorias em áreas distintas e muitas vezes afastadas.
O comportamento dos animais é previsível após a separação e pode ser detectado durante semanas após a desmama. Vacas e bezerros permanecem vocalizando repetidamente, passam mais tempo caminhando, ficando menos tempo se alimentando, ruminando e descansando. Estas alterações de comportamento evidenciam que o método tradicional de aparte traz conseqüências negativas sobre o bem-estar animal. O resultado é claro: menor desempenho no período subseqüente da recria e redução da imunidade, tornando o bezerro mais susceptível à doenças.
Quais seriam então as alternativas para desmamar? Algumas técnicas são apresentadas resumidamente:
- Separação completa
Consiste em separar os animais e colocá-los em áreas suficientemente afastadas para que ambos não ouçam a vocalização. O ideal é que os bezerros permaneçam na mesma área em que estavam acostumados a ficar, pois já estão familiarizados com o local (pastos, bebedouros etc.).
As vacas devem ser então movidas para outro setor da fazenda. Caso não seja possível e os bezerros tenham que ser removidos, atenção especial deve ser dada para o conforto dos animais, provendo água e se possível áreas com sombra e abrigo do vento. Como comentado anteriormente, este método provoca alterações comportamentais não desejáveis, com efeitos sobre o desempenho.
- Desmama com visualização
É realizada mantendo vacas e bezerros lado a lado, separados apenas por uma cerca. Desta forma os bezerros permanecem visualizando suas mães e vice-versa. Pesquisadores da Universidade da Califórnia-Davis verificaram que bezerros desmamados com visualização ganharam 30% mais peso que os animais desmamados tradicionalmente durante as dez primeiras semanas pós-desmama. A pesquisa mostrou que os bezerros andaram menos e também chamaram menos por suas mães.
Observações realizadas na EMBRAPA-CNPGC, com mães e crias desmamadas e separadas em pastos adjacentes, demonstrou maior tranqüilidade, tanto para as vacas quanto para os bezerros, desde os primeiros dias. Este método parece realmente reduzir o estresse. O importante é ter uma cerca resistente que garanta que os animais não irão se juntar novamente. Para facilitar o manejo, alguns criadores mantêm usualmente as crias no curral de quatro a sete dias pós-desmama, fornecendo água, ração no cocho e capim fresco à vontade.
- Utilização de vacas madrinhas
A substituição das mães por vacas de descarte tem como objetivos acalmar os bezerros, fazer com que se alimentem o mais rápido possível e também estabilizar seu ambiente social. Pesquisadores da Universidade de Saskatoon (Canadá) constataram pouco ou nenhum benefício com este método, não havendo melhoria de desempenho, imunidade e saúde dos bezerros. Basicamente os animais se comportaram da mesma forma como se tivessem sido desmamados abruptamente, mesmo em companhia das vacas madrinhas.
- Troca de lotes
Outra alternativa testada na Universidade de Saskatoon, foi dividir os lotes de vacas e bezerros em dois e em seguida trocar os bezerros de lotes, permanecendo com as mães trocadas. Entretanto, ambos vacas e bezerros permaneceram procurando seus pares, sem benefício sobre os parâmetros comportamentais. Os pesquisadores destacaram que não é possível determinar se os bezerros se sentem mais confortáveis na presença de animais adultos e desconhecidos.
- Separação em dois estágios
Recentemente um novo método de separação em dois estágios foi avaliado (Haley et al., 2005), promovendo resultados mais positivos que a desmama com visualização. Consiste em evitar que os bezerros mamem (utilizando uma ferramenta antiga e conhecida, a tabuleta) sendo este o primeiro estágio e após 4 a 7 dias separam-se os lotes (estágio 2). Em resumo, observou-se que:
– Os bezerros com a tabuleta apresentaram o mesmo comportamento dos bezerros sem a tabuleta, permanecendo por tempos iguais se alimentando e caminhando. Em ambos também não houve vocalização;
– Quando a tabuleta foi removida e os bezerros foram separados (segundo estágio), apenas os bezerros que não foram impedidos de mamar (grupo controle) permaneceram vocalizando e caminhando com maior intensidade;
– Os bezerros desmamados em dois estágios apresentaram 85% menos vocalização, caminharam 80% menos e passaram 25% mais tempo se alimentando e 24% mais tempo descansando;
– Outro dado interessante: no primeiro dia após a separação, os bezerros que haviam sido privados da mamada caminharam 5,2 km/dia enquanto os animais do grupo controle percorreram 16,7 km/dia!
– O ganho de peso nos primeiros 7 dias após a separação foi significativamente mais elevado para a técnica dos dois estágios;
Este método parece ser uma alternativa interessante para a desmama, porém requer pelo menos duas práticas de manejo a mais, uma para colocar e outra para retirar a tabuleta. Além disto, o uso em rebanhos grandes pode ser complicado, dado o número de tabuletas e todo o manejo que envolve.
Independentemente do manejo adotado, alguns cuidados devem ser adotados com o lote de bezerros desmamados, tais como:
– Evitar práticas como aplicação de vermífugos e vacinas e castração durante a desmama. O ideal é que tais práticas sejam feitas 4 semanas antes;
– Bezerros devem ser checados com freqüência e, os doentes, removidos imediatamente do piquete para uma área de isolamento, ajudando a prevenir a disseminação de doenças, e devidamente tratados.
– Nos primeiros dias após a separação, deve-se evitar distúrbios aos recém desmamados. Transporte e comercialização devem ser evitados. Se viagens forem necessárias, devem ser o menos estressante possível.
– Os piquetes devem ser protegidos contra ventos e providos de sombra, reduzindo-se os estresses climáticos adicionais.
– O tratamento preventivo de doenças deve ser feito por meio de vacinações, como também o controle de ecto e endoparasitos, seguindo um rígido manejo sanitário.
Fonte: EMBRAPA/BeefPoint