Foi mais uma semana de trajetória altista nas cotações do boi gordo, sustentada pela restrição de oferta de animais nas regiões pecuárias brasileiros, além do aquecimento das exportações de carne bovina.
“Para conseguir comprar matéria prima e preencher as escalas de abate, as indústrias continuaram pagando mais caro pelo gado ao longo desta semana”, observa a IHS Markit.
No entanto, mesmo com o preço de venda dos animais terminados oscilando em níveis recordes (valores nominais, sem descontar o efeito inflacionário), pecuaristas que atuam na recria e engorda encontram dificuldades para fazer a reposição dos rebanhos, já que também há enorme escassez de oferta entre animais jovens e os seus preços de venda encontram-se em patamares ainda mais elevados.
“O aumento do abate de fêmeas em anos anteriores provocou diminuições na criação do gado magro, promovendo forte elevação nos preços da categoria”, relata a IHS Markit.
Além disso, outros insumos pecuários, principalmente a ração, também passaram por processos de valorização, encarecendo a atividade pecuária de recria e engorda como um todo. Dessa forma, não há, ao menos no curto prazo, expectativas para entradas de maiores lotes de boiada, uma vez que produtores se mostram comedidos em recompor os rebanhos.
Entre algumas das regiões pesquisadas, as indústrias só conseguem avançar com as escalas mediante aquisição de animais de confinamento próprio, de acordo coma IHS Markit.
Números divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os abates no primeiro semestre de 2020 confirmam esse cenário de escassez de oferta. No acumulado dos seis meses, foram abatidas 14,55 milhões de bovinos no Brasil, queda de 8,6% sobre o volume de mesmo período do ano passado.
Além de dificuldades em avançar com as escalas e os altos valores da arroba do boi gordo, os frigoríficos brasileiros também enfrentam restrições para repassar os altos custos de produção para o preço dos cortes nos atacados. Segundo a IHS Markit, nesta segunda quinzena no mês, o consumo de carne bovina no país se mantém em volumes bastante baixos, reflexo do menor poder de compra da população.
No entanto, plantas habilitadas para exportação conseguem administrar melhor as suas margens, atendendo a forte demanda internacional pelo produto brasileiro a um preço de venda da carne favorecido pela desvalorização cambial do real frente ao dólar, ressalta a IHS.
Em relatório preliminar divulgado pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior), as exportações de carne “in natura” ao longo das primeiras duas semanas de setembro se mantiveram em ritmo aquecido. Os embarques nos primeiros 8 dias úteis de setembro somaram 65,64 mil toneladas com uma média de 8,2 mil toneladas por dia, crescimento de 24,61% com relação ao mesmo período em 2019. Em termos de receita, a média diária foi de US$ 33,49 milhões por dia, com avanço de 20,54% com relação ao ano passado.
Comportamento diário
Nesta sexta-feira, o mercado físico do boi gordo registrou baixa liquidez de negócios e preços estáveis da arroba na maioria das principais regiões pecuárias do Brasil. Houve registro de altas pontuais em algumas praças, movimentos sustentados pela escassez de oferta de gado gordo, relata a IHS Markit. Em todo o país, a baixa disponibilidade de animais terminados tem limitado o avanço das programações de abate, que atendem, em média, apenas quatro dias úteis, de acordo com a consultoria.
“Apesar das escalas encurtadas, não há grande pressão para posicionamento mais firmes e ativo dos compradores, já que, como esperado para a segunda quinzena do mês, as vendas de carne bovina nos atacados domésticos seguem sem volumes expressivos”, reforça a IHS.
Além do menor poder aquisitivo da população, a fraca demanda por proteínas é reflexo dos impactos da crise econômica no País, cenário que deve ganhar força nos próximos meses. “Diante do fraco escoamento dos cortes bovinos para os centros consumidores, as indústrias se mostram cautelosas nos negócios, e há registro de plantas que reduziram o ritmo de produção diária de forma ainda mais expressiva”, destaca a IHS Markit.
Porém, apesar da menor atuação dos frigoríficos, o ambiente de negócios ainda aponta para sustentação dos preços da boiada gorda, prevê a consultoria. “A baixa disponibilidade de gado, que tem origem em mudanças estruturais no setor, limita uma pressão negativa na cotação da arroba, que deve ainda se sustentar em patamares recordes ao menos no curto e médio prazos”, prevê a consultoria.
No atacado
No mercado atacadista, o preço da ponta de agulha e do dianteiro de boi recuaram nesta sexta-feira. Ao longo de toda a semana, a demanda por carne se manteve em níveis baixos, fator que deu suporte para os ajustes negativos, relata a IHS Markit.
Giro pelas praças
Nesta sexta-feira, em Campo Grande-MS, o preço do boi gordo teve leve ajuste positivo.
Entre algumas regiões produtivas do Mato Grosso, a arroba da boiada gorda também se valorizou.
Em Minas Gerais, a escassez de oferta de gado deu suporte para novas altas no preço das boiadas.
Em Rondônia, para conseguir comprar matéria prima e preencher as escalas de abate, que estão bem apertadas, indústrias tiveram de elevar os valores oferecidos.
Fonte: Portal DBO