A edição do Censo DSM de Confinamento 2020 apontou que a pecuária brasileira bateu recorde do número de animais terminados em confinamento. De acordo com o levantamento, foram 6,2 milhões de cabeças engordadas em cocho, o que representou um aumento de 6% sobre o ano anterior, 2019. O assunto foi repercutido no Giro do Boi desta quinta, 18, em entrevista com o zootecnista Marcos Baruselli, gerente de confinamento da DSM.
“O censo foi ganhando força de uns cinco anos para cá, foi ganhando mais representatividade, mais confiabilidade, […] ganhou uma dimensão nacional. Nós conseguimos medir os pequenos, médios e grandes confinamentos do Brasil e chegamos neste número de 6,2 milhões de bois confinados em 2020, que é um número recorde. O Brasil até então não havia alcançado 6,2 milhões de bois confinados em um ano. E no ano de 2020, através do Censo DSM de Confinamento, feito por uma equipe multidisciplinar muito grande, nós conseguimos mapear 6,2 milhões de bois confinados”, confirmou o zootecnista.
O especialista analisou o crescimento da modalidade de engorda e disse que o setor deve celebrar a conquista. “A pecuária brasileira vem se intensificando. O confinamento […] está dentro daquele conceito de produzir mais com menos, de aumentar a produtividade das propriedades rurais brasileiras, de aumentar a produção de arrobas por hectare. A produção de mais arrobas por hectare tem uma correlação direta com a lucratividade da propriedade rural e o confinamento ajuda demais o produtor a girar (o estoque da) fazenda dele, a produzir mais arrobas em menor tempo e com menor área. Isso é muito importante, sim, é um número que há de se comemorar”, sustentou.
O zootecnista comentou as vantagens para o pecuarista que usa o confinamento como sistema de engorda. “(Ele acaba) produzindo carcaças mais pesadas, com um maior rendimento de carcaça. Para você ter uma ideia, o rendimento de carcaça de um boi confinado gira em torno de 55% (contra uma média de 53% do boi a pasto). Ele come mais ração, ele ganha mais conformidade, mais massa muscular, mais acabamento de gordura, então é uma carcaça de melhor qualidade. Sem contar que reduz a idade de abate do animal, é um boi mais jovem, o chamado novilho precoce. A gente abatia animais de cinco anos e agora abate animais de 2 a 3 anos. […] O boi confinado chega a ganhar 1,7 kg por dia de peso, então se você prender ele 100 dias, você coloca 170 quilos no animal e ainda ganha em rendimento de carcaça. Isso é que torna a atividade lucrativa. Confinamento hoje está dando lucro para o pecuarista”, afirmou.
O especialista mencionou que o sistema de engorda casa com o regime de chuvas do Brasil, que conta com um período de seca definido. “O confinamento acelera o que o pasto não consegue fazer, principalmente na época da seca. Tem muito gado no Brasil que quando chega o período seco perde peso, chega a perder uma, duas arrobas de peso. E no preço que está a arroba hoje, você não pode deixar o animal perder duas arrobas – pelo contrário! O animal tem que ter uma curva de ganho ascendente desde o dia que ele nasce até o dia do abate dele. Então o confinamento é um modelo de produção muito interessante porque nessa fase final, quando o boi está com 400, 450 kg, você tira ele do pasto e traz para as baias de confinamento, oferece ração balanceada com aditivo, com minerais, com vitaminas e esse animal expressa elevado ganho de peso. Você acaba formando uma carcaça melhor, libera a fazenda, porque você alivia a pastagem bem no período da seca, que é o gargalo da produção animal, quando o capim fica fraco e a produtividade do pasto reduz violentamente. Então essa é a hora de tirar o animal do pasto e colocar nos confinamentos. Com isso, a produção de arrobas na fazenda aumenta de forma expressiva”, justificou.
Além do volume, entre os dados levantados pelo Censo DSM de Confinamento está também a regionalização deste crescimento da engorda em cocho. “A DSM, quando começou a mapear os bois confinados no Brasil, buscou saber onde estava a maior concentração de animais confinados. Hoje a gente destaca três estados brasileiros como sendo os maiores confinadores: Mato Grosso, Goiás e São Paulo. Em ordem, Mato Grosso assumiu a dianteira, é onde mais se confina boi no Brasil hoje, seguido de Goiás, que era o primeiro, e depois São Paulo. Nesses três estados é onde nós encontramos o maior número de confinamentos, mas destaco o Nordeste, Minas Gerais também, Mato Grosso do Sul, na Região Norte, em Rondônia hoje a gente encontra um número expressivo de bois confinados. Eu diria que é um sistema de produção que está disseminado por todo o Brasil”, constatou Baruselli.
gerente de confinamento da DSM disse que o aumento de bois confinados em 2020 superou a adversidade do aumento dos custos de produção por conta da valorização do boi gordo. “O último trimestre de 2020 foi quando o milho começou a subir. Nos outros três trimestres, o confinador ainda não havia se deparado com esse milho de R$ 80,00 a saca, como está hoje, até acima de R$ 80,00. Para esse ano, os custos de produção são sensivelmente maiores. A gente percebe hoje um bezerro muito caro, um boi magro muito caro, com ágio, e a ração. Com o milho dobrando de preço, a ração ficou mais cara porque a ração do boi confinado no Brasil é muito rica em milho. […] Porém a arroba também está acima dos R$ 300,00, que é um caso inédito. A gente nunca teve arroba tão valorizada. Então aumentou o custo de produção, mas também aumentou a receita. Com a arroba a R$ 300,00, esse valor cobre os custos de produção e ainda deixa lucro para o confinador. O pecuarista ainda está no lucro”, enalteceu.
Conforme adiantou Baruselli, o volume era esperado pois está dentro da média de crescimento do confinamento nos últimos anos. “O crescimento é expressivo, ele dá uma média de 6 a 7% de crescimento ao ano do sistema de confinamento no Brasil. É uma taxa de crescimento forte. A gente percebe que cada vez mais produtores rurais estão construindo instalações rurais para confinar o gado nas suas propriedades. A gente percebe também que existem produtores construindo o famoso boitel, que são confinamentos grandes para os quais os produtores podem encaminhar o seu gado para ser engordado lá. Existem vários modelos de boiteis no Brasil e são modelos de produção que crescem de forma significativa no Brasil”, observou.
A aposta de Baruselli é que se estabeleça novo recorde de volume de animais confinados em 2021. Um dos motivos é que, além da entressafra, os bovinos estão sendo terminados de maneira intensiva também neste período das águas. “Já começou aquecido o ano. Janeiro e fevereiro não são meses tradicionais de confinamento porque é uma época de muita chuva, então as pastagens estão verdes, o gado normalmente fica a pasto. Mas esse ano, pelo comportamento do produtor rural, a gente já observou que vem mais um ano forte de confinamento. Isto acontece porque, na minha visão, o pecuarista está querendo aproveitar esse arroba de R$ 300,00 e está intensificando a atividade pecuária. Ele está dando mais sal proteinado, por exemplo, está semiconfinando mais e também está se preparando para confinar mais cedo esse ano, ele quer aproveitar […] e obter lucros com a atividade de confinamento. Então a gente observa que 2021 já começou forte, é claro que ainda está no começo do ano, tem muito o que ser avaliado ainda, mas se essa arroba se mantiver nos patamares em que está hoje, eu acredito que nós vamos bater mais um recorde de boi confinado no Brasil em 2021”, projetou.
Baruselli comentou que o produtor está buscando não só o confinamento, mas outras sistemas de produção para intensificar a engorda. “Outra coisa que eu gostaria de citar aqui é o semiconfinamento, que é um modelo de produção que consiste em levar a ração até o pasto. O produtor rural constrói uma linha de cocho nas próprias pastagens e todo dia vai levar ração. Então o animal tem pasto e um complemento de ração nesse cocho. A gente chama esse modelo de semiconfinamento. Esse modelo também cresce de forma muito significativa no Brasil. A gente estima que seja um número igual ou até maior que o número de bois confinados. Então se a gente somar o gado confinado, que deu 6,2 milhões de cabeças, mais o gado semiconfinado, que deve ser também algo em torno de 6 a 7 milhões, nós já estamos falando de 12 milhões de bois entre confinados e semiconfinados no Brasil por ano”, estimou.
Fonte: Giro do Boi