O carrapato é um dos maiores inimigos da produção de leite e carne no Brasil, gerando grandes prejuízos à pecuária nacional. Nosso clima tropical é propício para a explosão populacional da praga, que pode ocasionar ao gado a diminuição da performance e da produtividade e a contração da tristeza parasitária, levando à perda de peso e até à morte. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor chega a perder R$ 10 bilhões por ano com as consequências que o carrapato causa.
As alternativas de combate encontradas pelos produtores no mercado são agentes químicos que, independentemente da apresentação – se injetáveis, pulverizados ou para aplicações no dorso – possuem ação agressiva. Os produtos são extremamente tóxicos – tanto para quem manipula, quanto para o animal e o meio ambiente.
Além disso, o uso excessivo durante muitos anos aumentou a resistência da praga, implicando em dosagens maiores e em períodos cada vez mais curtos, deixando as soluções sem efetividade. Como resultado, temos animais improdutivos, profissionais expostos à substâncias tóxicas, elevado desperdício com descarte obrigatório da produção e até a contaminação do solo.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos. Segundo especialistas, o país usa 500 mil toneladas de agentes químicos anualmente. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nos últimos quarenta anos, houve um aumento 700% no consumo dessas soluções.
O uso frequente de agrotóxicos causa diversos problemas, como a contaminação do animal, do ser humano, dos alimentos e do solo; a resistência de pragas a princípios ativos; o desequilíbrio biológico; a eliminação de organismos benéficos e a redução da biodiversidade.
Acompanhando uma tendência mundial, vemos que o consumidor está cada vez mais consciente e tem uma nova percepção e relação com os alimentos que consome. Começa a questionar sobre a origem, se preocupa com a procedência dos produtos e com o trato dos animais. O que está em curso é uma mudança de paradigma. O alimento do futuro tem de ser mais limpo, saudável e sustentável.
Essa mudança de hábito impacta toda a cadeia, especialmente os produtores, que devem se adaptar à nova demanda. Atualmente, o agronegócio tem tido urgência em se reinventar para minimizar o impacto ambiental. Diante disso, o controle biológico se apresenta como um importante aliado. Já utilizado há anos na agricultura, passou a ser uma opção viável também para a pecuária.
O controle biológico é uma técnica utilizada para combater espécies nocivas, reduzindo os prejuízos causados por elas. A tecnologia consiste em controlar pragas e insetos transmissores de doenças por meio do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, parasitóides, predadores e microrganismos, como bactérias, fungos e vírus.
No combate do carrapato, fungos tem se mostrado como eficazes agentes de controle desse parasita. Quando os esporos desses fungos entram em contato com o carrapato, eles germinam e se desenvolvem, levando-o à morte em poucos dias. Esses microorganismos podem ser pulverizados nos animais ou na pastagem, permitindo assim um controle eficaz e estratégico do parasita. É o poder da natureza, no lugar certo e na hora certa.
As vantagens em relação ao uso de agentes químicos são evidentes, uma vez que o controle biológico não polui o ambiente e não causa desequilíbrios ecológicos, auxiliando para a melhoria da qualidade dos produtos, redução da poluição ambiental, preservação dos recursos naturais e sustentabilidade dos agroecossistemas. Além disso, a tecnologia diminui a exposição dos produtores rurais aos pesticidas, não afeta a qualidade do solo, previne contra pragas mais resistentes, promove o bem-estar animal e evita alimentos contaminados.
Em forte expansão na agricultura, o controle biológico é indicado por pesquisadores e produtores como a melhor ferramenta para se produzir com qualidade, respeitando o meio ambiente. Recentemente, inclusive, o Mapa lançou o Programa Nacional de Bioinsumos, com o objetivo de impulsionar a utilização de recursos biológicos na agropecuária brasileira. A tecnologia, portanto, representa uma oportunidade para a inovação na pecuária e é uma maneira eficaz de capturar e controlar pragas de forma biológica, estratégica e natural.
Por meio de soluções ecológicas integradas, do incentivo à produção mais natural de alimentos e de atitudes positivas, é possível proporcionar qualidade de vida aos animais e mais saúde aos consumidores, intensificando a conexão de nossas relações com o meio ambiente. Hoje, ser sustentável é uma necessidade, e a pecuária não está fora disso.
Fonte: Agro em dia
Foto: Lucas von Zuben, CEO da Decoy Smart Control - Divulgação