O mercado de animais vivos na bovinocultura de corte brasileira tem crescido muito, exigindo do pecuarista conhecimentos cada vez mais consistentes sobre a avaliação de animais na hora da compra. Ao mesmo tempo, os programas de melhoramento genético e práticas de seleção, desde as mais complexas até as mais simples, disseminam-se por muitas propriedades, exigindo que o manejador saiba como avaliar visualmente os bovinos.
“Dos grandes produtores de animais de elite, até o criador comercial, o mercado de gado de corte está estruturado, segundo alguns estudiosos, em forma de uma pirâmide, em cuja base estão os rebanhos comerciais, de cria, recria e engorda, dedicados à produção comercial de animais destinados ao abate”, afirmam os professores Luiz Antônio Josahkian e Carlos Henrique Cavallari Machado.
No seu topo, está o rebanho de elite, produzindo e comercializando sêmen, embriões e animais vivos. Já na porção mediana, também com bovinos de raças puras, está o rebanho multiplicador, que vai produzir touros para os rebanhos comerciais, a partir da genética dos rebanhos de elite. Daí a necessidade de se fazer uma avaliação criteriosa dos bovinos, visando ao destino desses animais. Dessa forma, houve a necessidade de se criar um sistema de avaliação de bovinos, surgindo então o EMPURAS.
Por meio desse sistema de avaliação de bovinos, faz-se um retrato falado do animal, com o qual se identificam os biótipos mais eficientes e produtivos para cada sistema de produção. O EPMURAS refere-se à estrutura corporal (E), precocidade (P), musculosidade (M), umbigo (U), características raciais (R), aprumos (A), características sexuais (S).
Baseado na metodologia de Koury Filho (2005) e Koury Filho & Albuquerque (2002), o EPMU avalia o animal da seguinte maneira:
- Estrutura Corporal (E): corresponde ao tamanho ou área do animal visto de lado, do dorso/lombo ao chão, considerando as pernas. Trata-se basicamente do comprimento corporal e altura do animal. Os escores variam de 1 a 6, sendo escore 1 pequeno e 6 grande.
- Precocidade (P): corresponde à relação entre o comprimento de costelas e altura de membros. O objetivo é identificar animais com maior profundidade de costelas, que tende a depositar gordura de acabamento mais cedo. Esse acabamento é possível de ser observado na virilha baixa e arredondamento das massas musculares, baseado em menos ossos salientes, além de pontos específicos, como a inserção da cauda, maçã do peito, paleta e coluna vertebral. Os escores variam de 1 a 6, sendo escores menores atribuídos a indivíduos mais tardios e maiores para os mais precoces.
- Musculosidade (M): corresponde às evidências de massas musculares, principalmente observadas no posterior e na linha dorso-lombar, regiões onde estão situados os cortes nobres. Animais mais musculosos são mais pesados e apresentam maior rendimento de carcaça. Os escores variam de 1 a 6, sendo escore 1 para os menos musculosos do lote e 6 para os mais musculosos.
- Umbigo (U): corresponde ao tamanho e posicionamento da prega umbilical, considerando bainha e prepúcio nos machos. Importante característica para as condições de produção brasileira – basicamente a pasto. Animais com umbigos muito pendulosos estão mais susceptíveis a patologias, podendo comprometer a reprodução. Os escores variam de 1 a 6, sendo escore 1 colado; 2,3,4 funcionais; 5 e 6 pendulosos.
As características raça, aprumos e sexualidade (RAS) tem funções importantes, relacionadas à adaptabilidade do animal ao ambiente tropical brasileiro. Alguns exemplos são: bordos dos olhos negros e com pele enrugada, protegendo dos raios solares, assim como espelho nasal pigmentado, garantindo boa pigmentação do corpo do animal; aprumos corretos garantem longevidade do animal no rebanho e sustentação da monta, tanto do macho quanto da fêmea; o touro com a tábua do pescoço e cupim escuros, estes mostram a ação da testosterona, o que pode garantir um bom reprodutor.
Conforme descrito pelo Dr. William, as definições para RAS são:
- Caracterização Racial (R): todos os itens previstos nos padrões raciais determinados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) devem ser considerados. O tipo racial é um distintivo comercial forte e tem valor de mercado, o que, por si só, justifica sua inclusão em um programa de melhoramento. Seus escores variam de 1 a 4, sendo 1 fraco e 4 muito bom.
Aprumos (A): são avaliados por meio das proporções, direções, angulações e articulações dos membros anteriores e posteriores. No Brasil, a maioria dos animais é criada a pasto, com suplementação mineral. Com isso, os animais são obrigados a percorrerem grandes distâncias, favorecendo aqueles de melhores aprumos. Na reprodução, bons aprumos são fundamentais para o macho efetuar bem a monta e para a fêmea suportá-la, além de estarem diretamente ligados ao período de permanência do indivíduo no rebanho.
- Características Sexuais (S): busca-se masculinidade nos machos e feminilidade nas fêmeas. Estas características deverão ser tanto mais acentuadas quanto maior a idade dos animais avaliados. Avaliam-se os genitais externos, que devem ser funcionais, de desenvolvimento condizente com a idade cronológica. Características sexuais do exterior do animal parecem estar diretamente ligadas à eficiência reprodutiva. A reprodução é a característica de maior impacto financeiro na atividade.
Como proceder à avaliação
A avaliação visual de um determinado lote de animais que formem grupos de contemporâneos deve seguir as seguintes recomendações:
- Subdividir os lotes em grupos com no máximo 30 dias de diferença de idade do mais novo para o mais velho;
- Ter claramente a definição para cada uma das características que serão avaliadas;
- Observar o lote e identificar os animais médios para cada uma das características em questão, pois esse será o parâmetro comparativo para se identificar a cabeceira e o fundo do grupo;
Fonte: CPT