A atividade pecuária se refere ao processo produtivo de criação de animais em geral, a qual abrange desde os equipamentos utilizados, o manejo dos rebanhos até a comercialização dos animais. A bovinocultura de corte, inserida na atividade pecuária, dedica-se à criação da espécie bovina para a produção de carne, a partir do desenvolvimento de um ciclo produtivo que envolve desde o manejo reprodutivo até o beneficiamento da carne (ARAUJO, 2009; CALADO, 2009 apud VENTUROSO e PEDRO FILHO, 2010). Um sistema de produção de pecuária de corte abrange um conjunto de tecnologias, práticas de manejo, tipo e genética dos animais, condições socioeconômicas, culturais, mercado consumidor e capacidade de investimentos (EUCLIDES FILHO, 2000). Em termos de classificação, a literatura apresenta essencialmente três tipos de sistemas para a bovinocultura: extensivo, semi-intensivo e intensivo. Nos sistemas de produção extensivos os bovinos são criados em regime de pastagem durante todo o seu ciclo de vida, sendo necessário dispor de 0,5 a 1 hectare de pastagem por animal ao ano, que proporcionam o menor custo total de produção, embora a sazonalidade das pastagens ocasione baixa produtividade, pelo abate tardio e carcaça abaixo do peso, quando comparado aos demais sistemas de produção (ALENCAR, 2003). No Brasil, a dependência das pastagens tropicais pela maioria dos sistemas de bovinocultura é um dos maiores entraves dos sistemas de produção de carne bovina, em que cerca de 80% da produção anual de forragens concentra-se no período das águas, havendo queda na qualidade da matéria verde seca nos demais períodos. Contudo, a utilização de manejo adequado das pastagens com fertilização, tanto direta quanto por meio de rotação de culturas; irrigação; uso de consorciação com leguminosas e uso de espécies de gramíneas mais adequadas. (EUCLIDES FILHO, 2000) Nos sistemas de produção semi-intensivos a criação é realizada em pastagem durante os períodos chuvosos com a suplementação alimentar nos períodos secos, o que contribui para a redução dos efeitos da sazonalidade das pastagens, proporcionando melhor produtividade em engorda e peso da carcaça do que em relação ao sistema extensivo. (ALENCAR, 2003). Em modelo de produção semi-intensivo proposto pela Embrapa (2000), o pasto foi base da alimentação do rebanho, com suplementação mineral à vontade. Na primeira estação seca após a desmama, os machos receberam suplemento alimentar em pastagem e na segunda, foram terminados em confinamento. Nos sistemas intensivos ocorre o confinamento dos animais para submete-los a um plano alimentar de engorda, em que se classifica a modalidade de acordo com a fase em que o confinamento é iniciado, por exemplo, baby-beef (da desmama até o abate) e, recria e engorda (após a desmama até o abate) (CARDOSO, 1996). O acabamento e terminação é a modalidade mais difundida no Brasil, quando o animal é submetido ao confinamento dos 2,5 a 3 anos a partir dos 300-400 kg até atingir o abate por 90 a 120 dias (MARTIN, 1999). Sob o aspecto econômico, os sistemas intensivos apresentam custos de produção 13% superior e gastos totais com alimentos 500% maiores, em comparação em comparação aos sistemas extensivos, porém os lucros operacionais são 219% maiores com adoção de tecnologias (NOGUEIRA et al, 2004 apud GUIMARÃES, 2015)
Instalações
As instalações constituem aspectos importantes relacionados com a funcionalidade, resistência, economia e segurança para o manejo, que influenciam a saúde do rebanho, o estresse e contusões nos animais, bem como para as condições de trabalho. Quando adequadas, as instalações contribuem para a qualidade do produto e manutenção da rentabilidade do produtor (EMBRAPA, 2007). Em geral, instalações são compostas de cercas, corredores, curral, reservatórios de água, bebedouros, cochos para complementação e suplementação nutricional, instalações para confinamento, instalações para suplementação de bezerros e armazenamento de insumos (EMBRAPA, 2007). Convém refletir que os investimentos sobre as instalações também devem considerar a capacidade produção, assim como um planejamento para o seu crescimento, de acordo com o sistema produtivo adotado e as adequações mediante a aquisição de novas tecnologias.
Controle sanitário na bovinocultura
Para assegurar o bom desempenho do rebanho, sobrevivência, bem-estar animal e a qualidade da carne e couro produzidos, o produtor de gado de corte deve adotar medidas preventivas e curativas de controle sanitário (EMBRAPA, 2007). Do modo contrário, a ocorrência de doenças sem o devido controle, acarreta em baixa produtividade, perdas de animais, ineficiência reprodutiva, bem como a dificuldade de comercialização e de acesso aos mercados (SHENK et al., 1993). Do ponto de vista econômico, Lopes e Magalhães (2005, p. 378), descreve que os gastos totais de medicamentos, incluindo vacinas, representa 0,93% do custo operacional efetivo, enquanto que a aquisição de animais representa 68,4%. Sob outra perspectiva a Tabela 1 apresenta a média do custo relativizado ao custo operacional total dos programas de sanidade decorrentes de fazendas de recria e engorda em seis níveis de tecnologia, segundo a ABIAC (2016).
Tabela 1 - Média relativizada do custo dos programas de sanidade decorrentes de fazendas de recria e engorda em seis níveis de tecnologia.
Nível de Tecnologia
Média relativizada do custo dos programas de sanidade Extrativista 0,94%
Baixa Tecnologia 1,29% Média Tecnologia 1,46% Adequada 1,14% Alta Tecnologia 1,10% Intensivo 1,13% Fonte: adaptado de ABIAC (2016) Em todos os comparativos fica evidenciado a grandiosidade dos benefícios de adotar as medidas de prevenção e controle de sanitário diante de um reduzido gasto. As práticas sanitárias no Brasil possuem normatização, dispondo os pecuaristas de corte de programas oficiais (EMBRAPA, 2007). Entre as principais ações previstas estão: a imunização preventiva e obrigatória do rebanho contra a febre aftosa, brucelose e raiva; o atendimento às instruções do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT), que visam a proteger a saúde pública e promover a erradicação dessas enfermidades; a manutenção atualizada dos arquivos e das fichas de controle sanitário preventivo e curativo, individuais ou por lote, contendo a data da ocorrência, número de partida e lote do medicamento utilizado, laboratório e data de validade; a disponibilizar das fichas e dos arquivos de controle sanitário aos fiscais do serviço de inspeção sanitária oficial e aos auditores do sistema de rastreamento e certificação ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, se for o caso; a utilização de vacinas e medicamentos aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como os procedimentos de conservação; a eliminar de animais mortos, mediante a queima total da carcaça em local apropriado, para evitar a contaminação das pastagens e do lençol freático; a realização da vacina sempre no pescoço, afim de evitar lesões, redução no rendimento da carcaça e depreciação do seu valor comercial, quando localizada nas regiões nobres.
Manejo de reprodução
A viabilidade da exploração comercial do sistema de cria, nas condições predominantes de produção por pasto no Brasil, passa essencialmente pelo estabelecimento do período ou estação de monta a partir do regime de chuvas, que deverá impactar em todas as etapas do sistema produtivo e de manejo como o controle sanitário, a alimentação, a desmama e a castração, e se reflete na produtividade e qualidade da carne e couro produzidos (EMBRAPA, 2007). Deste modo, o período de monta tem seu início geralmente logo após as primeiras chuvas, que varia conforme a região, havendo a quebra do estágio de dormência da vegetação e dos pastos e a maior incidência de fêmeas no cio (Valle et al., 2000). Dentre as vantagens suscitadas para a adoção de um período de monta, pode-se ressaltar o planejamento para a otimização da utilização da forragem em sua disponibilidade e qualidade nutricional, a definição do calendário de controle sanitário, a padronização dos bezerros em lotes e a possibilidade de organização e gestão dos recursos materiais e financeiros, bem como as atividades operacionais de forma cíclica. Além do período de monta, o manejo reprodutivo requer a utilização de touros de fertilidade comprovada. Tais condições podem ser avaliadas e obtidas por meio de exames andrológicos e seleção mediante o potencial de produção sêmen, características, raciais, genealógicas, fenotípicas, comportamento e masculinidade. A importância destas considerações deve-se ao alto impacto da fertilidade do touro no desempenho reprodutivo do rebanho em relação ao da vaca. (TORRES et al., 2009). No que se refere às vacas é importante identificar as novilhas, vacas primíparas e vacas multíparas. Desta forma, é possível adotar práticas de manejo diferenciado em função das necessidades de cada categoria, além de adequar a relação entre touro e vaca, considerando idade, capacidade de monta, estado sanitário e nutricional dos touros, condição corporal das vacas, tamanho e topografia das pastagens (EMBRAPA, 2007).