Discussões sobre a importância do Agro Brasileiro para a segurança alimentar mundial têm levado a divergências quanto ao número de pessoas que o Brasil alimenta no mundo, variando de 1 bilhão a 1,5 bilhão. Ainda que pareça quase ufanismo apresentar números tão elevados, tem-se que manter credibilidade nas estimativas, derivadas de algum método para seus cálculos. Neste trabalho, partiu-se da produção de grãos e oleaginosas, alimentos básicos de amplas populações no mundo e insumos mais importantes para a produção de proteína animal e então quantificou-se quanto o Brasil contribuiu na alimentação de pessoas no Brasil e no mundo.
Este procedimento atende basicamente à classificação de "alimentos" por parte do Banco Mundial, elaborada para o Food Price Index. Para a construção deste Index, o Banco Mundial considerou os cereais: arroz, trigo, milho e cevada; óleos vegetais e tortas: soja, óleo de soja, torta de soja, óleo de dendê, de coco e de amendoim; outros alimentos: açúcar, banana, carne de boi, de aves e laranja.
No presente trabalho, foram calculadas duas alternativas básicas: a primeira baseada na produção física de grãos e a segunda agregando à produção física o seu respectivo valor monetário, a partir de preços internacionais. Agregou-se à segunda alternativa, a transformação da carne bovina exportada pelo Brasil em equivalente grãos. Para as duas alternativas básicas, calculou-se o número de pessoas que a produção brasileira alimenta no mundo, incluindo o Brasil. Para os autores, a segunda alternativa aproxima-se mais da resposta de quantos habitantes são alimentados pelo Brasil.
Na primeira alternativa, baseada na produção física, utilizaram-se dados do International Grains Council (IGC), subtraindo-se as importações de grãos feitas pelo Brasil. A partir dos dados de produção, estabeleceu-se o percentual da produção brasileira destes grãos em relação à mundial. Com dados da população mundial, foi possível quantificar o número de pessoas que o Brasil alimenta, com base na sua participação na produção mundial de grãos e oleaginosas.
No período considerado, a participação do Brasil na produção mundial de grãos cresce de 6% em 2011 para 8% em 2020. Assim, as pessoas alimentadas pelo Brasil no ano de 2020 são a população brasileira de 212,235 milhões de pessoas e mais 424,687 milhões de pessoas em outros países, pelas suas exportações de grãos, oleaginosas e carnes de aves e suínos
Tomando-se como base os dados do IGC, estimaram-se também taxas anuais de crescimento. Os resultados indicam que entre 2011 a 2020, a produção mundial de grãos básicos (arroz, cevada, milho, soja e trigo) cresceu a 2,05% por ano, enquanto que a produção brasileira dos mesmos produtos cresceu 5,33% a.a., mais do que o dobro da produção mundial. O poder explicativo do modelo é de 85% para o mundo e de 91% para o Brasil.
A segunda alternativa de cálculo, estimou a população alimentada pelo Brasil não mais na quantidade de produção, mas a partir dos preços internacionais dos produtos, estabelecidos pelo FMI, multiplicados pela produção física, a cada ano. À esta alternativa, transformou-se a carne bovina exportada em equivalente grãos. Em seguida, fez-se a sua proporção em relação ao total, como realizado anteriormente.
A carne exportada pelo Brasil contém em grande medida os insumos milho e soja, principalmente a de suínos e aves, já incluídos na participação do Brasil na produção de grãos. Um ajuste necessário refere-se à carne bovina exportada, no caso do Brasil, produzida basicamente em pasto. A produção nacional consumida internamente está computada na alimentação dos 212,235 milhões de habitantes do Brasil. Assumiu-se que toda a carne bovina exportada tem origem na produção em pasto, embora alguma parte provenha de confinamento, e parte da alimentação contenha grãos, como soja e milho.
Os dados mostram que o Brasil, em 2020, alimentou 772,600 milhões de pessoas, sendo 212,235 da população brasileira e mais 560,365 milhões de outros países, via exportação de grãos e carne bovina convertida em grãos. A variação da população total alimentada pelo Brasil em 2019 de 809,472 milhões em relação a 2020 deve-se à variação de preços dos produtos nos dois anos considerados. Assim, pode-se afirmar que ao redor de 800 milhões de pessoas são alimentadas pelo Brasil, incluindo a população brasileira. Além do alto quantitativo de pessoas alimentadas, é importante também observar o crescimento do Brasil no período como um todo. De 2011 a 2020, o Brasil passou a alimentar mais 259,442 milhões de pessoas. Se o crescimento das exportações brasileiras continuar um ritmo próximo ao observado nos últimos anos, pode se afirmar que a produção do agro Brasileira em 10 anos alimentaria mais de 1 bilhão de pessoas.
Fonte: Embrapa
Elisio Contini – Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Adalberto Aragão – Analista da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).