Estava saindo para visitar a fazenda de uns amigos, localizada no Mato Grosso do Sul, quando recebi um telefonema do pecuarista William Koury, pai de meu ex-aluno e amigo William Koury Filho.
Conversamos sobre muitos assuntos. Ele disse-me uma coisa que me marcou muito: “No Brasil, melhoramento genético é igual à religião: a maioria diz que é católica, mas poucos praticam”. Há tempos não ouvia algo tão apropriado. E como convencer um criador que melhoramento genético é importante e que adquirir um touro geneticamente superior é essencial para o aumento da produtividade de um rebanho? Só tem um jeito: mexendo no bolso do criador.
Aí, ele entende isso com rapidez e começa a “ser praticante”. O pecuarista tem que deixar de ser extrativista e passar a pensar como um verdadeiro empresário rural. E para que serve um touro em uma propriedade que produz bovinos de corte?
Os touros servem para transmitir seus genes para seus filhos, visando alterar a frequência dos genes favoráveis para as características de relevância econômica, mudando, assim, a produtividade do rebanho. Eles são máquinas que devem produzir seu produto: o bezerro, de boa qualidade.
Touro serve somente para isso dentro da pecuária de corte. Se os touros servem para isso, como fazemos para saber quanto valem os espermatozoides que os touros produzem?
Não existe um exame específico que possa garantir qual é a combinação de genes de um espermatozoide específico que irá fecundar um óvulo. A única maneira é conhecer o valor médio de um espermatozoide de um touro e isso é feito pela estimação das DEP (Diferenças Esperadas de Progênie), que indicam quanto se espera que os filhos de um touro sejam mais (ou menos) produtivos que os filhos de outro touro, quando os dois são comparados.
Esse conhecimento nos conduz, portanto, à uma conta muito simples, que indica o quanto vale um reprodutor geneticamente avaliado. Suponhamos que um touro, que chamaremos de A, com DEP para ganho de peso pós desmama de +10 kg (um touro que se enquadra nos top 10% de uma avaliação) seja comparado a outro touro, o B, com DEP para a mesma característica de -5 kg.
O que vale, para avaliarmos a nossa compra, é a diferença entre eles, de 15 kg. Se esse touro for colocado na fazenda com 35 vacas, ele irá produzir 30 bezerros/ano. Se sua vida útil for de 6 anos, os touros terão produzidos 30 bezerros/ano x 6 anos = 180 bezerros em sua vida útil (logicamente, mais bezerros se sua longevidade for maior que 6 anos).
Vamos voltar à comparação de touros. Multiplicando os 180 bezerros pelo ganho de peso adicional que os filhos do touro A terão em relação aos filhos do touro B, devido aos genes transmitidos pelos touros, teremos 180 bezerros x 15 kg = 2.700 kg de ganho de peso a favor dos filhos produzidos pelo touro A.
Como o preço do kg vivo está ao redor de R$2,60, o valor diferencial dos filhos do touro A em relação aos filhos do touro B será de R$7.020,00. Esse valor é o quanto o touro A vale, a mais, que o touro B. Simples a conta, não é?
Essa conta pode ser muito mais favorável se compararmos um touro proveniente de um programa sério de seleção, com um “boi de boiada”. Nesses casos, o touro A seria comparado com um touro muito inferior e seu valor diferencial seria muito maior. Se lembramos que o Brasil precisa de 450 a 500 mil tourinhos de reposição por ano e que cerca de 10.000 são geneticamente avaliados e aprovados como touros melhoradores, de fato (mais ou menos 2% dos touros de reposição), fica fácil perceber que a pecuária de corte brasileira perde dinheiro o tempo todo.
Que tal fazermos um exame de consciência e passarmos a ser pecuaristas praticantes do melhoramento genético? Pensamos nisso, criamos o curso de Acasalamento Dirigido e Escolha de Touros na Raça Nelore, que esse ano está na 9º edição, o acasalamento é onde começa o projeto de melhoramento por isso o curso foi produzido.
