Pesquisa mostra a diferença de resposta de bois Nelore e de cruzamento Nelore + Angus
Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Acre em 2017 mostrou a diferença de produtividade entre bovinos Nelore e de cruzamento industrial entre Nelore e Aberdeen Angus – muito comum no Acre – em pastos tradicionais e consorciados. Os animais foram observados na recria, no período da seca, de maio a setembro de 2017. Enquanto o ganho de peso do Nelore aumentou cerca de 27% na pastagem consorciada com amendoim forrageiro em relação à “pura”, o crescimento do cruzamento Angus/Nelore foi de 66%. “É uma diferença expressiva, que vem da adaptação desses animais”, diz Maykel Sales, pesquisador da Embrapa Acre.
O ganho de peso diário de animais Nelore foi de 219 g em pasto “puro” e de 278 g no consorciado. Já a média dos animais do cruzamento Angus/Nelore foi de 238 g/dia apenas com braquiária humidícola e de 395 g/dia no consórcio com 20% a 25% de amendoim forrageiro. Nessa pesquisa, a taxa de lotação foi de 2,2 UA/ha no pasto puro e de 2,4 UA/ha no consorciado. Além do ganho de peso, o pesquisador também fez uma avaliação de parâmetros sanguíneos para verificar como estava o aproveitamento da dieta pelos animais. Segundo ele, o Nelore não sente tanto a diferença entre pastos comuns e consorciados, já que está acostumado com uma dieta com pouco nitrogênio. “Por serem animais que vêm de uma região do mundo com gramíneas de baixa qualidade, estão adaptados a isso, então, durante a evolução, se especializaram em reciclar nitrogênio. Com isso, os níveis de nitrogênio no sangue desses animais são estáveis, na faixa de 17% a 20%, o que a gente considera próximos de ideais”, explica Sales.
Angus, originária de regiões temperadas da Europa, onde há gramíneas de alta qualidade, não apresenta a mesma evolução. “Esse animal cruzado em ambiente com pouco nitrogênio sofre bastante, o que prejudica o ganho de peso, que fica muito parecido com o do Nelore. Mas quando você compensa com o pasto consorciado, ele é muito melhor”. O pesquisador da Embrapa Acre explica que no caso de pasto puro de braquiária humidícola, a vantagem do melhoramento genético vindo do cruzamento é anulada pela baixa qualidade do pasto. “É um animal que precisa de um ambiente melhor, suplementação proteica se for o caso ou de um pasto consorciado para você não “perder” o potencial genético dele”.
Consórcio com amendoim forrageiro
Sales realiza estudos em pastos puros e consorciados em 16 hectares da Fazenda Guaxupé, em Rio Branco, no Acre, desde 2010. A partir de 2015, quando ajustes no sistema foram feitos, as avaliações de Nelore na recria – animais de 8 a 10 meses de idade e 220 a 230 kg – sistemicamente têm apontado média de aumento no ganho de peso de pastos consorciados ante puros de 20% na época das chuvas e de cerca de 40% na seca – em números brutos, porém, o ganho de peso diário é maior nas chuvas nos dois sistemas.
Além de aumentar o teor proteico da dieta na comparação apenas com o pasto de braquiária humidícola, o amendoim forrageiro é menos fibroso e de digestibilidade maior, resultando em melhora do desempenho animal. O consórcio, então, permite produzir mais carne em menos tempo e ainda reduz a dependência de insumos. “O produtor que trabalha com pasto consorciado não depende tanto de comprar ureia, que chega a preços altos no Acre, porque há reposição direta de nitrogênio pelo amendoim”, explica. Segundo o pesquisador, com 30% de amendoim forrageiro e 70% de capim, proporção considerada ótima, a quantidade de nitrogênio fixada no solo ficaria em torno de 80 a 120 kg de N/ha/ano, substituindo por volta de 200 kg de ureia. Apesar dos estudos serem focados no Acre, Sales acredita o sistema funcione bem em toda a região Amazônica e em áreas com estação de seca não tão prolongada.
Assistência técnica
Para o pesquisador, quem usa a tecnologia está satisfeito e expandindo a área, mas a adoção ainda é baixa. “Não conseguimos fazer a disseminação como queríamos, porque não temos perna para isso. A assistência técnica para a introdução é deficiente e você precisa de acompanhamento mais rigoroso para não perder controle do pasto”. Um dos cuidados é passar a aplicar herbicidas seletivos na pastagem em vez de apenas para folhas largas, mais utilizados no capim, porém que prejudicam o amendoim. Em relação a pragas, em geral, o amendoim forrageiro tem sido uma segurança, pois as principais atacam as gramíneas e ele consegue manter a qualidade da dieta enquanto isso. Em 2015, porém, quando houve uma seca mais duradoura, surgiu no Estado uma praga que ataca o amendoim: o ácaro vermelho. “Mas nos anos seguintes já não teve a mesma pressão, então não consideramos um problema. E já fizemos avaliações e temos uma estratégia para o controle”.
A maior dificuldade, contudo, está na implantação do amendoim forrageiro, já que a obrigatoriedade de plantio por mudas limita o uso da tecnologia. “Mas estamos desenvolvendo uma cultivar para ser plantada com sementes, o que vai facilitar o trabalho”. De acordo com o pesquisador, o material deve ser lançado até o ano que vem.
Fonte: Portal DBO