Caros leitores, início de ano é sempre um período de esperança e de bons presságios, espero encontrá-los bem de saúde e com energia e cabeça para seguirmos firmes em 2021. A pecuária bovina segue com excelente valorização. A atividade realmente precisava desse ajuste para continuar competitiva como opção de proteína saudável. Quem é envolvido com a produção sabe o quanto é custoso para se colher uma safra de bois.
De maneira geral, o produtor rural é um otimista, inicia seu trabalho acreditando que tudo dará certo e, no caminho, apresenta resiliência para lidar com os obstáculos que naturalmente acontecem, tais como: uma seca mais prolongada que o usual, ou uma infestação maior de invasoras, ou um ataque de lagartas. Hoje, com a ciência e a aplicação de tecnologias, os “imprevistos” podem ser monitorados de forma a agir mais rápido e minimizar seus efeitos negativos. O clima já apresenta previsões com maior antecipação e assertividade; o diagnóstico rápido através de imagens coletadas por drones permitem uma aplicação cirúrgica de inseticidas ou herbicidas em início de infestação de alguma praga. Quando entramos em genética, foram desenvolvidas raças ou linhagens bovinas, suínas e de aves capazes de produzir mais em ambientes específicos, além de cultivares de capim e de grãos com diferentes qualidades e características mais apropriadas para a produção de acordo com as chuvas, as temperaturas e os manejos – verdadeiros pacotes tecnológicos.
E os exemplos não param por aí, a ciência, realmente, revolucionou nosso agronegócio. Impressionante como um país que chegou a importar cerca de 30% de suas necessidades alimentares na década de 1940, em duas gerações, se transformou no maior exportador de alimentos do mundo graças a um programa de criação de base científica e tecnológica da chamada “agricultura tropical” e à consequente orientação de milhões de produtores.
Mas essa transformação não aconteceu por acaso, o País evoluiu a partir de pesquisas e tecnologias próprias, desenvolvidas por universidades, institutos de pesquisa, empresas privadas e pela Embrapa. O impacto dessa revolução do agronegócio brasileiro para o mundo é tão grande que o professor Alysson Paolinelli foi indicado para o Prêmio Nobel Paz por toda sua obra. Você pode estar se perguntando: qual a importância do agro na paz mundial? A resposta é muito simples e vem com outra pergunta: qual a principal motivação das guerras, êxodos ou crises locais? O acesso ao alimento é condição básica e estratégica para paz e para a sobrevivência do homem. Estima-se que, aproximadamente, 820 milhões de pessoas ainda passem fome no mundo em pleno século XXI. Esse tema não é novo. Em 1970, o cientista americano Norman Borlaug recebeu o Prêmio Nobel da Paz por ter contribuído de forma decisiva para o desenvolvimento das ciências agrárias. O Professor Paulinelli, amigo de Borlaug, evoluiu esse conhecimento focado no Brasil e o transformou via Embrapa e outras instituições de ciência e tecnologia agropecuária na ferramenta da Tecnologia Tropical para o mundo. Sua biografia, com toda sua competência, liderança, altruísmo e patriotismo, é, realmente, digna de reconhecimento pela humanidade e, principalmente, pelos brasileiros.
Aí que devemos refletir sobre a importância da ciência na soberania de uma nação. Em tempos de pandemia, fica escancarado para o mundo o quanto é estratégico estar à frente na ciência. Nesse episódio, um belo exemplo de quem colhe resultados é a Índia, país que, nas últimas décadas, têm investido muito na formação de indianos nas principais universidades do mundo, e, com isso, foi uma das primeiras nações a produzir a vacina contra o Coronavírus.
A estratégia da Índia de aprimorar seu corpo de cientistas é semelhante à política de intercâmbio de pesquisadores brasileiros com as principais universidades do agro no mundo, fomentada pelo professor Paulinelli ao longo de sua carreira pública. Trata-se da formação e da transformação de muita gente boa que, na Embrapa, nos institutos e nas universidades brasileiras, desenvolveram técnicas de produção em ambiente tropical, até mesmo no bioma cerrado, desprezado na década de 1970, e que, hoje, apresenta índices altíssimos de produtividade agrícola, inclusive com possibilidade de se colher mais de uma safra/ano e implementar integração com pecuária e floresta – o que só possível em ambientes equatoriais, subtropicais ou tropicais.
Pois é, imaginem o que seria do Brasil de hoje se não tivesse havido toda essa política de investimento na ciência? Incrível como lideranças “bois de guia” são fundamentais para gerar disrupturas e transformar os rumos de uma família, cidade, universidade, nação e humanidade. Esperamos que o poder que temos enquanto povo venha com sabedoria para elegermos lideranças competentes. Triste ver instituições de ensino e pesquisa importantes no agro passando por momentos de dificuldades em decorrência de políticas equivocadas na definição de prioridades. ESPERANÇA! Que, na filosofia de Santo Agostinho, significa indignação e coragem para mudar. Que venha 2021!
Vamos que vamos!
Por William Koury Filho
Zootecnista, mestre e doutor em Produção Animal, jurado de pista de Angus a Zebu e proprietário da Brasil com Z – Zootecnia Tropical