Sob olhar desconfiado dos europeus, a pecuária terá de encontrar alternativas para reduzir as emissões de metano, um dos gases de maior impacto sobre o aquecimento global. Nos fóruns internacionais, o tema é incontornável. Se a indústria da carne não encontrar uma saída, dificilmente escapará da incidência de impostos mais altos, como foi recentemente proposto por parlamentares da Alemanha.
Nesse cenário, a multinacional holandesa Royal DSM desenvolveu uma tecnologia promissora para combater a emissão de gases do efeito estufa pela pecuária. A nova tecnologia, citada como uma das dez com maior potencial de ajudar o planeta em relatório recente da organização americana World Resources Institute, pode ser bastante positiva para o Brasil – grande exportador de carne bovina -, mas não apenas. Mesmo a Europa, forte na produção de leite, terá que reduzir as emissões de gases de sua pecuária.
Na DSM, a tecnologia é tratada como uma revolução. Até agora, as principais medidas de combate às emissões de gases pela pecuária estão ligadas ao aumento da produtividade, uma vez que, quando engorda mais rápido, o gado emite gases por um período de vida mais curto. A nova tecnologia, porém, promete reduzir efetivamente a emissão.
Segundo pesquisadores da empresa, a mistura da uma quantidade pequena do aditivo 3-NOP – abreviação do composto orgânico 3-Nitrooxypropanol – na ração reduzirá as emissões das vacas leiteiras em ao menos 25%. O benefício é maior na pecuária de corte, com uma redução de 30%. Atualmente, a pecuária é responsável por 10% das emissões globais de gases do efeito estufa.
Batizado de Clean Cow, o projeto de desenvolvimento do produto levou dez anos. Em julho, a DSM pediu o registro do produto aos reguladores da União Europeia. A expectativa da DSM é que as autoridades aprovem o aditivo até o início de 2021, disse ao Valor Mark van Nieuwland, diretor do programa Clean Cow. O executivo holandês esteve no Brasil este mês para uma conferência sobre emissões de gases do efeito estufa em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Assim que o produto tiver o aval europeu, a DSM deve submetê-lo para registro no Brasil. Conforme Nieuwland, o selo ambiental europeu tende a facilitar o registro em outros países. Embora ainda não haja estimativas do impacto do novo produto para o ganhos de massa dos bovinos, Nieuwland disse que o aditivo pode ter reflexo positivo, na medida em que, ao inibir a emissão de metano, o produto poupará o dispêndio de energia pelos animais.
Diante disso, o Brasil deve ser um dos mercados mais importantes para as vendas do produto. No país, a DSM é dona da Tortuga, líder em ração para bovino. A companhia tem 30% do fornecimento de ração para gado criado em confinamento.
Questionado, o executivo evitou fazer comentários sobre a política ambiental do governo Bolsonaro – alvo de muitas críticas na Europa -, e também sobre outros governos que duvidam do aquecimento global. No entanto, ele argumentou que, a despeito de quaisquer políticas, um número cada vez maior de empresas se engaja em iniciativas para atenuar o aquecimento global.
Entre os exemplos, Nieuwland citou a francesa Danone, que pretende reduzir sua “pegada de carbono” em 50% até 2030 e, até a metade do século, se tornar “neutra” em emissões de gases do efeito estufa. Sendo uma empresa de lácteos, a Danone terá de atuar no combate ao metano emitido pelas vacas, o que abre uma oportunidade para a tecnologia da DSM.
Para a múlti, a busca por um mundo mais sustentável não é só uma oportunidade de negócio, mas parte de uma filosofia que transformou a própria empresa, que tem ações na bolsa de Amsterdã e teve receita de € 9,3 bilhões no último ano.
Quando foi fundada pelo governo holandês em 1902, a DSM era uma mina de carvão. Seu nome faz alusão a essa origem: De Nederlandse Staatsmijnen (Minas do Estado Holandês). Na década de 1970, a DSM desativou as minas e, hoje, está concentrada nas áreas de saúde, nutrição e sustentabilidade. E o nome de batismo ganhou novo significado: “Doing Something Meaningful” (Fazendo Algo Significativo)
Fonte: BeefPoint