A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) serve ou não para a minha propriedade?
Muito se fala, atualmente, sobre as vantagens e desvantagens do uso da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Mas será que devo adotar essa tecnologia na minha propriedade? Para começar: cada caso é um caso e não existe apenas uma resposta certa, mas sim, pontos positivos e negativos a serem considerados para chegar à decisão final. Ao longo do texto vamos discutir um pouco sobre esses pontos para auxiliar a sua tomada de decisão.
Vamos começar pelas vantagens. A inseminação artificial (IA) - seja com observação de cio ou em tempo fixo (IATF) - traz inúmeras vantagens como: melhor controle zootécnico; permite realizar diferentes cruzamentos; favorece a seleção e o melhoramento genético; permite a escolha da data do parto; facilita a organização dos manejos; possibilita melhor retorno financeiro. O uso da IATF permite, ainda, eliminar a observação de cio, diminuindo riscos com falhas de observação, além de concentrar ainda mais as concepções.
Entretanto, é necessário que exista certa infraestrutura para a realização dos procedimentos, assim como há aumento de custo para aquisição dos insumos e necessidade de capacitação de mão de obra. Além disso, devemos considerar alguns pontos que, quando falhos, podem trazer maus resultados, como por exemplo, falha na detecção de uma vaca em cio, tempo incorreto do serviço e erros de identificação de um animal. Nesse ponto, a IATF traz o grande benefício de eliminar a necessidade de observação de cio, minimizando erros e propiciando a inseminação de grande número de animais no mesmo dia, de modo a concentrar as concepções.
Porém, existem muitas opções entre as estratégias e os protocolos a serem selecionados. Por exemplo, é possível fazer uma, duas ou mais inseminações artificiais em tempo fixo. O repasse da primeira IATF pode ser feito, ainda, por inseminação artificial com observação de cio (IA) ou mesmo com touro. Além disso, as matrizes podem ser dividas em lotes de modo que cada lote passe sequência de procedimentos diferentes, dentro da mesma propriedade e na mesma estação de monta.
Quando a escolha é por realizar mais de uma IATF no mesmo lote de animais, dizemos que estamos fazendo a ressincronização. O intervalo entre protocolos pode ser de 30 ou 45 dias. Caso a opção seja por 30 dias de intervalo, o novo protocolo é iniciado antes mesmo do diagnóstico de gestação do primeiro protocolo. Durante o segundo protocolo, é feito o diagnóstico de gestação com auxilio de ultrassonografia e os animais que estiverem prenhes não continuam o protocolo, mas os animais diagnosticados como vazios finalizam o protocolo e recebem a segunda IATF. No caso de optar por intervalo de 45 dias entre protocolos, o diagnóstico deve ser realizado antes do início do protocolo seguinte. Esse diagnóstico, preferencialmente, é realizado com auxilio de ultrassonografia. A principal vantagem da ressincronização está em concentrar as concepções, embora o custo fique elevado por conta dos protocolos.
Já quando a opção é por fazer a IA convencional, as fêmeas devem ser mantidas sem a presença dos machos. As vacas que não emprenham da primeira IATF, geralmente, apresentam cio - o chamado cio de retorno - cerca de 21 dias após a inseminação. Lembrando que a observação de cio deve ser feita duas vezes por dia, nos horários de temperatura mais amena, isto é, início da manhã e final da tarde, todos os dias da semana. Recomenda-se que as observações iniciem por volta de 15 a 18 dias após a primeira IA e sejam mantidas até o final da estação de monta, ou até que a estratégia seja alterada para repasse com touros. Esse procedimento tem como principal vantagem a observação do cio de retorno, que serve de indicativo da eficiência da IATF. Porém, esse índice depende da observação humana e, consequentemente, está sujeito aos erros já comentados.
Uma maneira menos onerosa de repasse é, após a IATF, utilizar touros em regime de monta natural. Recomenda-se que aguarde cerca de cinco dias após a IATF para colocar os touros nos lotes de fêmeas, pois isso evita que as fêmeas inseminadas sejam cobertas logo em seguida pelos touros. Esse recurso deixa os procedimentos menos caros e tem apresentado bons resultados nas propriedades que o adotam. Essa recomendação é bastante interessante, inclusive, para propriedades que estão iniciando o uso da IATF, pois permite que os funcionários se adaptem de modo mais tranquilo aos procedimentos, além de poder gerar bons índices produtivos com custo não muito elevado. Caso os resultados sejam positivos, no ano seguinte, a propriedade pode expandir sua ação, utilizando observação e cio ou ressincronização, ou mesmo fazendo a IATF em maior número de animais.
Ao discutir essas estratégias, fica claro que, ao contrário do que se possa pensar, o uso da IATF não necessariamente elimina o uso dos touros e nem mesmo da monta natural. Afinal, a seleção de touros para centrais continuará acontecendo, pois a demanda por touros melhoradores tende a aumentar com o aumento do uso da IA. Mesmo com o advento da ressincronização, em que são feitos dois ou até três protocolos de IATF por estação nos mesmos animais, ainda existe espaço pra o repasse com touros. Afinal, a ressincronização ainda não é feita em todas as matrizes. Além disso, atualmente, pouco mais de 10% do rebanho brasileiro é inseminado, restando mais de 85% das vacas sendo cobertas por monta natural. A IATF não irá diminuir o mercado de touros, pelo contrário, irá fomentar cada vez mais os trabalhos de seleção e melhoramento para a produção de reprodutores.
Outro fator importante a considerar é que existem, no mercado nacional, inúmeros produtos, de diferentes fabricantes, disponíveis para uso em protocolos de IATF, assim como existem diferentes protocolos que podem ser utilizados. A escolha pelo protocolo e pelos produtos deve ser feita pelo médico veterinário responsável pela implantação e pelo acompanhamento do programa reprodutivo, pois ele conhece os animais e suas condições e é capacitado para realizar a escolha de qual o melhor protocolo para cada situação. Cabe também ao médico veterinário definir qual a melhor estratégia para repasse, ou seja, vai ser feita nova sincronização, ou inseminação com observação de cio, ou mesmo monta natural, e definir quais animais passarão por quais procedimentos. Afinal, como já foi comentado, podem ser feitas diferentes estratégias dentro de uma mesma propriedade.
É extremamente importante que o produtor saiba suas opções, conheça as vantagens, desvantagens, limitações, necessidades de investimentos e riscos antes de introduzir uma nova tecnologia na propriedade. E para isso existem muitos profissionais habilitados no mercado, que podem esclarecer e auxiliar o produtor. Portanto, se você está em dúvida se deve ou não investir em um programa reprodutivo para uso de IATF, procure um médico veterinário que atue na sua região implantando programas reprodutivos e veja quais as melhores opções para sua situação.
Fontes: Embrapa e UFRGS (fotos)