Promessas de ano novo na pecuária de corte
O veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, diz que algumas lições podem ser tiradas dos últimos anos e possíveis posturas podem ser seguidas.
Promessas de ano novo na pecuária de corte

Por HYBERVILLE NETO, médico veterinário especialista gestão financeira e consultor da Scot Consultoria

Neste começo de 2021, o cenário no mercado de carne bovina deve ser de consumo lento, sentindo os efeitos do fim do auxílio emergencial e período de incidência de impostos e afins. Por outro lado, temos uma situação de pecuaristas fora das vendas, o que normalmente perdura por mais uns dias, o que deve ajudar a manter o mercado calmo.

Além dos desejos de muitas felicidades e saúde neste ano que começa, trouxemos algumas sugestões de ações a serem tomadas em 2021, como a promessa de fazer dieta feita por algumas pessoas, ou o início de uma rotina de exercícios feita por outras.

PRIMEIRA – LEMBRAR QUE O MERCADO NÃO SOBE PARA SEMPRE

Depois de 2019 e 2020 isso não deveria estar como promessa, mas como uma obrigação. As valorizações do último semestre surpreenderam, com a economia sentindo os efeitos da pandemia. Com menos oferta de gado e exportações em bom ritmo o mercado encontrou fôlego, com ajuda do auxílio emergencial, para bater os recordes que assistimos em 2019.

Talvez mais surpreendente que as altas foi o discurso de alguns vendedores, de que não venderiam por menos de R$300,00/@ e por aí vai. O mercado já tinha subido 40%, ainda assim, houve quem achou pouco e vendeu na queda.

Concordo que, em geral, a visão otimista é melhor, mas quando isso tem potencial de afetar fortemente a receita, um pouco de cautela não faz mal a ninguém. Os preços futuros apontaram para uma curva ascendente de preços no final do ano passado. Sem resultado positivo da manutenção da engorda, a retenção era viável, desde que usando as ferramentas disponíveis para garantir os preços.

SEGUNDA – ACOMPANHAR O MERCADO FUTURO, MAS LEMBRANDO QUE ELE NÃO VALE PARA QUASE NADA, SE NÃO FOR USADO PARA EFETIVAMENTE TRAVAR OS PREÇOS

Quando o mercado futuro se aproximou de R$300,00/@ entre o final de outubro e início de novembro, havia uma oportunidade interessante de travar as cotações, manter o gado em engorda, quando possível, garantindo uma curva positiva de preços.

O que os preços futuros fazem, em muitas ocasiões, é animar os produtores a investir, seja em reposição ou confinar o gado. Isso afeta o mercado no sentido oposto, com preços futuros ruins desestimulando a oferta e dando força às cotações no mercado físico à época. De toda forma, aqui temos outras variáveis, como preço dos alimentos, boi magro, cenário de confiança do produtor e caixa, entre outros.

O problema é que o preço futuro, se não for efetivamente usado, não é nada. Ele representa o ponto de equilíbrio das opiniões (ou estratégias, no caso de proteções de posições a termo) de diversos agentes, naquele momento.

Com isso, se a situação na B3 ou nas ofertas de negócios a termo (que estão relacionadas) garantem uma margem interessante, travar as cotações é uma alternativa a ser considerada. Quando o sistema depende da compra da reposição e o resultado pode sofrer com uma continuidade da alta do boi gordo, puxando a reposição, em um cenário de preços de venda fixados, aí o uso de preços mínimos é ainda mais relevante.

Os preços mínimos também são uma boa opção para quem não compra reposição, mas nesse caso, o risco de travar valores fixos seria só perder a alta, enquanto para quem compra reposição há o risco de que o sistema exija um aporte de capital para compra da reposição e manutenção da quantidade de animais. Isso não afetaria o resultado do lote anterior (o travado), mas é uma situação a ser considerada.

O oposto também ocorre. Quando tivemos o caso de encefalopatia espongiforme bovina atípica (vaca louca atípica) em meados de 2019, assim como quando a pandemia chegou ao Brasil em março de 2020, o mercado futuro respondeu de maneira súbita, caindo, o que abriu oportunidades de compra de arrobas. Aqui estamos nos referindo à compra de arrobas, pensando em travar a reposição, sem entrar no mérito da possibilidade de especulação.

TERCEIRA – AJUSTAR, INVESTIR NO SISTEMA, PARA MELHORAR O RESULTADO E TRABALHAR COM FOLGA

Este momento de preços em alta vai passar e períodos mais apertados virão, seguidos de outros momentos positivos, e assim por diante.

Os mercados trabalham assim. Em um cenário positivo, é hora de fazer ajustes e melhorar o sistema de produção, fazer investimentos (equilibrados e pensados, não sair pintando cerca), para incrementar os resultados na bonança e passar melhor pelos períodos adversos que virão.

OU SEJA….

As altas, ou as baixas, não duram para sempre. Trabalhe a parte zootécnica de maneira eficiente para passar melhor pelas fases ruins de mercado e ter caixa para aproveitar oportunidades que aparecem em meio às fases turbulentas.

Fonte: Scot Consultoria