Importância
O Brasil, por ser um país de clima tropical em sua maioria, apresenta um alto potencial de produção forrageira. No entanto, essa produção é caracterizada por períodos de máxima produção, disponibilidade e qualidade da forragem no período das águas e baixa disponibilidade e péssima qualidade de forragem no período da seca, contribuindo para períodos de ganho de peso animal intercalados com períodos de perda de peso ou estabilização do crescimento (MOREIRA et al., 2003). Com isso, as utilizações da suplementação de bovinos terminados em pastagens tropicais tornam-se indispensável, pois as pastagens não fornecem os nutrientes exigidos pelos animais de forma adequada durante o ano.
No Brasil central, bovinos terminados a pasto apresentam bom desenvolvimento na estação das chuvas com ganhos de peso da ordem de 0,5 kg/dia e fraco desempenho na época seca do ano, quando mantém ou até mesmo perdem peso, devido à baixa produção e qualidade das pastagens. Esta sequência de bons e maus desempenhos geralmente resulta em abate aos 54 meses de idade com um peso médio 17,5@ (QUADROS, 2005). A suplementação consiste em fornecer ao animal o que o alimento basal (volumoso, principalmente as pastagens) não consegue suprir em sua totalidade, seja no período das águas e/ou no período seco, sendo necessário ajustar essa deficiência conforme o período do ano. Na prática, o objetivo da suplementação é fechar as lacunas deixadas pela curva sazonal de qualidade das forrageiras (OLIVEIRA, 2012). Assim, a suplementação com concentrado, seja na fase de recria ou de terminação, permite reduzir o tempo de abate, aumentar a taxa de desfrute e o giro de capital (REIS et al., 2009).
Em virtude da sazonalidade produção das plantas forrageiras de clima tropical e das diferenças marcantes na composição bromatológica, a meta principal da suplementação é reduzir as deficiências nutricionais desta forragem para estimular o consumo, aumentar a digestibilidade, consequentemente melhorando o desempenho animal (CANESIN et al., 2007). BICALHO (2013) afirma que o desempenho animal em pastagens tropicais não é satisfatório, sendo necessário o fornecimento de suplementos múltiplos ou concentrados, considerando sempre o ponto de vista técnico-econômico. As deficiências e os desequilíbrios da nutrição minerais, frequentemente observados nos rebanhos bovinos do Brasil, levam a sérios prejuízos econômicos como mortes, doenças e baixo desempenho produtivo (MARQUES, 2006).
Devido à deficiência de alguns minerais na composição das forragens, realiza-se a suplementação dos animais que consomem, principalmente, as plantas tropicais. Segundo PAULINO et al. (2004), a suplementação de bovinos em pastejo é uma das principais estratégias para a intensificação dos sistemas primários regionais. Esta tecnologia permite corrigir dietas desbalanceadas, aumentar a eficiência de conversão das pastagens, melhorar o ganho de peso dos animais, encurtar os ciclos reprodutivos, de crescimento e engorda dos bovinos e aumentar a capacidade de suporte das pastagens, incrementando a eficiência de utilização das pastagens em seu pico de produção e elevando o nível de produção por unidade de superfície (kg/ha/ano). Os minerais estão envolvidos em quase todas as vias metabólicas do organismo animal, com funções importantes nos desempenhos reprodutivas, na manutenção do crescimento, no metabolismo energético, na função imune entre outras tantas funções fisiológicas, não só para a manutenção da vida, como também para o aumento da produtividade animal (LAMB et al., 2008; WILDE, 2006).
MENDONÇA JÚNIOR et al. (2011), tendo em vista as funções dos macro e microminerais, acreditam que toda deficiência mineral capaz de produzir alterações na saúde e no metabolismo do animal, tende a interferir também no desempenho produtivo e reprodutivo, tais como raquitismo, osteomalácia; abortos; natimortos; baixa produção de leite atraso da puberdade e estro pós-parto, moderada à baixa taxa de concepção, nascimento de fetos fracos ou mortos, tetania, anemia, etc. Dessa forma, a suplementação deve entrar na dieta suprindo os nutrientes que as pastagens não conseguem suprir na sua totalidade, atendendo as exigências dos bovinos.
Níveis de suplementação
A forragem sendo o único alimento disponível para os animais em pastejo deve fornecer energia, proteína, vitaminas e minerais para atender às exigências para mantença e produção. O suplemento deve ser considerado como um complemento da dieta, o qual supre os nutrientes deficientes na forragem disponível (TONELLO et al., 2011). Quando um suplemento é fornecido, o consumo de forragem dos animais mantidos em pastagens pode permanecer inalterado, aumentar ou diminuir, sendo que as respostas muitas vezes, dependem da qualidade e da quantidade da forragem disponível (SOUSA, 2007). MOORE (1980) relata sobre as interações existentes entre o consumo de forragem e o consumo de suplemento e apresenta três efeitos: o aditivo, no qual o consumo de forragem é constante em diferentes níveis de suplementação e ocorre adição no consumo total no mesmo nível que em o suplemento é fornecido; o efeito combinado, em que o consumo total aumenta, porém há redução do consumo de forragem; por fim, o efeito substitutivo, ou seja, o consumo total é constante, porém o consumo de forragem diminui na mesma proporção que aumenta o consumo de suplemento.
REIS et al. (2009) afirma que quando um suplemento é fornecido, o consumo de forragem dos animais mantidos em pastagens pode permanecer inalterado, aumentar ou diminuir, sendo que as respostas, muitas vezes, dependem da quantidade e da qualidade da forragem disponível e características do suplemento, bem como da maneira de seu fornecimento e do potencial de produção dos animais. Quando o animal é desmamado, durante o início da recria que normalmente ocorre na seca, prioriza-se o uso de suplementos múltiplos, em quantidades diárias próximas a 1,0 kg de suplemento/animal, atendendo às exigências de nutrientes limitantes, proporcionando ganhos de 400 a 550 g/dia, durante o período da seca (GOES et al., 2008).
SANTOS & DÓREA (2010) afirmam que a manutenção do peso ou ganho moderado na primeira seca após a desmama pode ser obtido com estratégias específicas de suplementação com quantidades restritas ou moderadas (100 a 500 g/100 kg de peso vivo) de suplementos proteicos. Quando o objetivo é a terminação a pasto na época seca do ano, o animal necessita quantidades elevadas de suplemento proteicoenergéticos. Quando mantidos exclusivamente em pastagens tropicais durante o período quente e chuvoso, os animais normalmente apresentam ganho médio diário de 0,7 kg, contudo, o potencial genético desses animais não pode ser expresso em regime de pasto nas águas, isso se deve principalmente à restrição na ingestão de energia, podendo ocorrer também restrição proteica em pastagens mais pobres. Nesse caso, doses moderadas (300 a 600 g/100 kg do peso vivo) de suplemento energético ou proteicoenergético podem resultar em aumentos no GMD de 0,15 a 0,4 kg/animal.
Para se alcançar um GMD próximo a 400 g/animal/dia, novilhos Nelore de 400 Kg de PV, em pastagem de Brachiaria brizantha durante a seca, com boa disponibilidade de MS de qualidade, deveriam receber um suplemento com 234 g de proteína degradada no rúmen e 718 g de NDT, oferecido na base de 1,46 kg/animal/dia (THIAGO & SILVA, 2001).
Suplementação energética
Nos ruminantes, diferentemente dos monogástricos, o maior parte dos carboidratos do alimento é fermentado no rúmen, originando, principalmente, os ácidos graxos voláteis (AGV): acetato, propionato e butirato. KOSLOSKI (2002), cita que estes AGV representam, para os ruminantes, a principal fonte de energia. Segundo LAZZARINI et al. (2006), o nível mínimo de 70 g PB/kg da dieta não assegura maximização na utilização dos substratos energéticos de lenta disponibilidade, uma vez que respostas positivas na degradação da fibra foi observado ate valores próximos a 130 a 140 g PB/kg da dieta. PAULINO et al. (2008) e BENATTI (2010), descreve que as bactérias presentes no rumem necessitam da disponibilidade da energia (ATP). Assim, quando da inclusão de proteína na dieta e forragem com reduzida taxa de digestão, a quantidade de energia pode limitar o crescimento microbiano. Desta forma, os suplementos para bovinos em gramíneas tropicais devem apresentar natureza múltipla e sinérgica.
ANDRADE & PRADO (2011) afirmam que a suplementação energética supre os nutrientes energéticos objetivando maior ganho de peso vivo, com ênfase em ordenamentos estratégicos de fornecimento de animais prontos em períodos de entre safra, potencializando ganhos em período de oferta de forragens de boa qualidade, melhorando os desempenhos reprodutivos nos rebanhos.
Suplementação proteica
A suplementação proteica no período seco pode ser utilizada como ferramenta para diferentes níveis de desempenho, como para a mantença, impedindo a perda de peso e de escore corporal dos animais. No Brasil, predominantemente, as pastagens tropicais e subtropicais apresentam períodos de alta produção (primavera e verão) e períodos de baixa produção (outono e inverno). A suplementação de proteína tem sido uma das práticas adotadas para suprir as exigências nutricionais dos bovinos, principalmente, nos períodos em que ocorre baixa produção de forragem.
A suplementação proteica tem como principais metas o aumento no consumo de matéria seca e a passagem de maior quantidade de proteína diretamente ao intestino delgado. Trabalhos realizados indicam que a suplementação proteica causa maior resposta no aumento do consumo em forrageiras de qualidade mais baixa do que com forrageiras de maior qualidade. Com o aumento do nível de proteína bruta na forragem, a magnitude do consumo declina ou não é evidente (SOUSA, 2007).
Suplementação mineral
Muitos animais consomem dietas que não correspondem às suas necessidades em relação aos minerais e os alimentos podem ser pobres ou ricos em determinados elementos ou conterem proporções desequilibradas entre si (TOKARNIA et al., 2000). Segundo BARBOSA et al. (2011), são consideráveis as diferenças existentes entre a disponibilidade de um elemento mineral fornecido por diferentes formas, sendo que a sua análise química num alimento ou na mistura mineral não fornece informação sobre a disponibilidade do mineral para os animais. Deste modo, sua biodisponibilidade deve ser definida como aquela parte do mineral que pode ser usada pelo animal, para atender suas necessidades metabólicas.
O nível de minerais encontrado em análises de forrageiras é muito variável de acordo com cada região, devido a isso antes de realizar a suplementação mineral deve buscar a composição das pastagens. A suplementação mineral de bovinos criados a pasto é de fundamental importância para garantirmos um bom desempenho produtivo, quanto maior a produção e disponibilidade de massa verde na pastagem, maior será a necessidade de minerais. Portanto, no período de verão, a suplementação proporciona melhores resultados de produtividade dos animais. De forma econômica, poderia se utilizar a mineralização com sal proteico, com o intuito de manter o peso ou até gerar ganhos moderados de até 200 g/animal/dia, levando como variação o tipo de pastagem e a categoria animal utilizada, assim o consumo deveria ficar em aproximadamente 1 g/kg de peso vivo/animal/dia. Deve-se ajustar o percentual de sal branco no suplemento para alcançar o consumo programado (THIAGO & SILVA, 2003, citado por FURTADO, 2010).
Desempenho animal
Nas condições tecnológicas atuais, o uso de variáveis subjetivas para a definição de programas alimentares e nutricionais de bovinos de corte em pastagem não são suficientes. Por outro lado, as informações disponíveis sobre o ajuste nutricional através de variáveis objetivas são incipientes e pouco conclusivas, quando analisadas de forma isolada (ROSSI et al., 2008). SILVA et al. (2010a), em experimento com novilhos Nelore com 371 kg e idade de 26 meses, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro níveis de suplementação concentrada (controle, 300g; 600g ou 900g/kg do peso vivo), pastejando em Brachiaria brizantha cv. Marandú, não alcançaram os ganhos esperados de 650 e 850g nos níveis de 600 e 900 g de suplementação/kg do peso vivo, respectivamente (Tabela 2).
Mesmo que não tenha sido desejável, o resultado obtido com a suplementação no nível de 900 g/100 kg PV, apresentou efeito linear crescente com a suplementação, pois foi 240,48 g superior ao observado no grupo que recebeu sal mineral e 133,40 e 98,76 g superior aos obtidos com concentrado nos níveis de 300 e 900 g/100 kg do PV. Essa intensificação do processo de produção promoveu aumento linear de 60,12% na produção em kg de peso vivo por hectare nos 84 dias em relação ao valor obtido sem suplementação; de 26,29% e 18,23% em relação ao observado com o fornecimento de concentrado nos níveis de 300 e 600 g/100 kg do PV. Os valores esperados eram, respectivamente, 142,86 e 30,77% nos níveis de 300 e 600 g/100 kg do PV (SILVA et al., 2010a).
Suplementação durante o ano
Na estação chuvosa, a forragem se apresenta verde e muitas vezes abundante, o que reduz consideravelmente o uso de suplementos proteicos, proteico-energéticos. No período das águas, o fornecimento de 80 g de suplemento mineral contendo macro (cálcio, fósforo, magnésio, enxofre e sódio) e micro minerais (manganês, zinco, cobre, iodo, cobalto, selênio e ferro) propiciará 400 a 500 g de peso vivo/animal/dia, caso não haja restrição de volumoso. Este é o principal motivo pela menor suplementação proteica nas águas. Porém, o desempenho dos animais poderia ser superior em situação de maior suplementação.
A suplementação resultará em maior investimento, porém a compensação virá com o aumento de peso (mérito individual) e da produtividade (@/hectare/ano). O período de terminação de um animal suplementado com proteinado em comparação ao bovino que recebe apenas mineral linha branca é inferior. Este método acarreta no ganho indireto de poder retirar o animal mais cedo do pasto, disponibilizando o espaço para outro bovino, que iniciará o processo de recria ou terminação (RIBEIRO, 2013). SILVA et al. (2010b), em um experimento com novilhos Nelore suplementados em pastagens quatro tratamento de suplementação obteve os seguintes resultados apresentado na Tabela 3.
No início do experimento, os animais de todos os tratamentos apresentavam peso vivo médio inicial de 373,70 ±14,0 kg. O peso vivo final apresentou efeito linear crescente (P<0,02) em função dos níveis de suplementação. Esta elevação crescente verificada na pesagem final dos animais gerou ganho médio diário também crescente (P<0,01). Os ganhos obtidos pelo tratamento com sal mineral são reflexos do ano atípico de chuvas e da alta disponibilidade de forragem que possibilitou a seleção das folhas pelos animais.
Para T03, (300 g/100 kg PV), o resultado também foi satisfatório, apresentando desempenho superior ao esperado, inclusive sem que houvesse efeito substitutivo. Nos dois outros tratamentos, T06 e T09, (600 e 900 g/100 kg PV, respectivamente), o efeito da substituição da forragem pelo concentrado associada ao não atendimento das exigências de proteína bruta e energia metabolizável proporcionaram desempenho aquém do esperado. Os resultados biológicos referentes ao ganho médio diário ao que tudo indica não são economicamente viáveis para T06 e T09, uma vez que ficaram abaixo do esperado e apresentaram incremento baixo no ganho (SILVA et al., 2010b).
Para um abate entre 18-20 meses de idade, o animal não poderia entrar na segunda seca de sua vida, ou seja, a terminação iniciar-se no mês de janeiro ou fevereiro, sendo abatido nos meses de março a maio. Para que esse plano de crescimento de curto prazo e abate se concretize, é necessário que o animal tenha um desempenho médio, ao longo de sua vida, de 600 a 650g por dia (PAULINO et al., 2001).
Portanto, fique atento:
Para manter competitivo no mercado consumidor é preciso se atualizar e fazer uso de tecnologias principalmente quando se trata de terminação de bovinos mantidos a pasto.
Fonte: SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE TERMINADOS EM PASTAGENS TROPICAIS: REVISÃO. Alex Lopes da Silva, Hermógenes Almeida de Santana Júnior, Mário Alves Barbosa Júnior, Cibelle Borges Figueiredo, Antônio Hosmylton Carvalho Ferreira, Elizângela Oliveira Cardoso Santana, Marilene dos Santos Maciel.